Monday, January 08, 2007

“Gente inesquecível”

Vão-se acumulando fotografias num álbum, numa caixa, num computador. Algumas delas, de tão (re)vistas, de tão manipuladas, de tão reenquadradas e estraçalhadas, passam a ter uma existência autónoma. Vivem para além do suporte e muito para lá do “contexto natural” que lhes deu origem.
Esta primordial, estranha, diabólica autonomia das imagens manifesta-se com uma rua, um vulto, um edifício, uma sombra. Mas é particularmente intrigante e incisiva com (algumas) pessoas.
As faces, as expressões que por aqui desfilam, reais ou de cera, nítidas ou fluidas, frontais ou ausentes, passaram a impor-se-me avassaladoramente, para sempre, por razões que me escapam. Foram isoladas, separadas, autonomizadas, não só da “realidade real”, mas também, depois, da “realidade fotográfica”, com novos isolamentos, novas separações, novas exclusões.
Provocam-me, nas poucas vezes que reconheço os modelos originais num café, no meio da rua, num automóvel que passa, uma tão violenta como sublime sensação de proximidade, de intimidade. Uma intimidade construída à margem da “existência real” das pessoas e, por isso mesmo, impossível de reduzir à banalidade e à lógica relacional. São inesquecíveis. São eu, evidentemente.



1 Comments:

Blogger Mónica said...

gente feia portanto?

11:17 AM  

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